sábado, 28 de julho de 2007

Ela Vem!


Por mais que tentamos evitá-la, ela sempre vem...

Vem cambaleando na própria palavra, enigmática, compreensível somente a si. Tem o costume de aproximar-se de nós passo a passo, lentamente, igual quando caminhamos em fila única na direção do altar, na hora da comunhão. Seja em noites frias ou quentes, ela sempre se mostra presente. Em sua face, um ar incógnito vagueia. Às vezes se pinta de beata, em outras se traja de ladra, embora a nudez seja a melhor de suas vestes. Pode ser que esteja embriagada, dopada por um sentimento qualquer. Ou então, absolutamente sã, desfrutando de esplêndida lucidez. Fechar os olhos não adianta, visto que a enxergamos dentro de nós. Tentar enganá-la é algo impossível, uma vez que recusa toda e qualquer espécie de subornação de origem psicológica. Seu humor, constantemente mutável, muitas das vezes nos ilude. E quanto a isso, nada podemos fazer. Já que diante do seu tribunal, passamos da condição de homens anistiados para, criminosos condenados à guilhotina, sem ajuda de anestésicos, em frações de segundos.

Muitos tombaram diante do seu olhar, que nem mesmo Medusa ousara desafiar. Assim como, inúmeras pessoas já choraram rios de lágrimas amargas, ao mesmo tempo em que tantas outras foguetearam alegremente. Dona do vento. Senhora da noite. Usurpadora de sonhos prazerosos e pesadelos nefastos. Que nos convida a um gole de vinho tinto, enquanto guarda consigo um pequeno frasco de veneno letal, prestes a ser derramado em nossos lábios trêmulos.

Por isso hoje, quando forem se deitar, convençam as paredes dos quartos a serem testemunhas dos seus julgamentos. E se for preciso, peçam por socorro ao par de botas batidas escondidos debaixo das suas camas. Com certeza não lhes negarão ajuda.

Mas só não esqueçam, que logo ao amanhecer, se ainda estiverem vivos, deverão me agradecer por ter-lhes alertados. Pois, eu bem que avisei!

Um comentário:

Grazzi Yatña disse...

É, ela sempre vem!