segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Sonhar, Voar e Partir


Ainda havia vento. Havia tempo. Havia em mim um imenso e incontrolável anseio em voar, revoar e nas ondas do vento pairar, como uma pena. E foi justamente esse desejo ardente, que há tempos fazia-me sonhar acordado, o responsável por levar-me muito além dos secretos diários, mantidos por mim em uma única gaveta. Tudo se tornara mágico. Fabuloso. E passear em labirintos, descobrindo novas passagens, novos portais, era tudo que sempre sonhei.

Sabia claramente, desde o início, que não poderia ter medo. E não tive. Aliás, isso foi fundamental para não me perder no caminho. Pois, as mesmas nuvens que pareciam serem feitas de algodão-doce, se mostravam traiçoeiras e perigosas em determinados momentos da viagem, principalmente quando já não tinha certeza, se seguir seria a melhor das opções. Mas mesmo tendo que enfrentar algumas turbulências, minhas pequenas asas se mostraram perfeitas: não se dissolveram no ar. Uma vez que, para conseguir tal feito, era sempre necessária uma dose excessiva de amor e paixão. Combustível essencial, para que junto de outros amores alados, pudesse dar o brilho necessário aos arco-íris estampados no céu.

E foi assim, dessa maneira, que voei durante o resto da minha vida. Voei para bem longe, muito além do nosso mundo. Coisas aconteceram por lá, mas não sei explica-las ao certo. Apenas digo que senti todos os movimentos e sentimentos de um vôo. Tive vertigens durante vórtices. Conheci vários ritmos e ciclos, de uma dolorida e colorida vida. Porém, ainda recordo das luas e dos sóis se entrelaçando no universo, como em um tango. Dançavam e se confundiam em um balé eterno, belo e fugaz, assistido de perto por estrelas solitárias, constelações, cristais e outros astros... E quanto a mim, apenas voei em uma viagem sem volta, rumo ao desconhecido.