sábado, 1 de março de 2008

Toques

Tuas mãos acuadas pareceram me tocar, naquela noite que parecia perdida, de tão poucas esperanças...

De fato me tocaram, e justo no lugar mais sensível.

Senti através dos seus dedos, um pequeno calafrio, seguido de uma erupção interna que tomava conta do seu corpo. Nesse instante, me vi imerso em um mar de lava vulcânica de origem sentimental, guardada por você na mais interna das profundezas, que agora vem à tona.

Tudo poderia ser facilmente abafado pelo mundo de mãos árduas e repressoras. Mas dessa vez não foi. E não por acaso.

Nessa noite, até o beijo se transformou em líquido para percorrer os cantos mais oblíquos da boca, já seco de tanta sede, mas ainda em carne viva e pulsante.

O desejo se dissolveu em fumaça, como incenso, e ainda permanece no ar, somente para ser inalado por nós enquanto ainda respirarmos, um ao outro, dia e noite.

Mas foi através do toque das suas mãos, que percebi um pedido de socorro.

Talvez você também tenha escutado, e quanto a isso não tenho dúvidas porque eu também pedia por socorro naquela noite de fusos horários.

Até então as palavras eram poucas, e gritavam em um silêncio que às vezes se sufocavam dentro de um universo incabível, e que agora, acomoda todos os nossos sonhos então reprimidos em uma caixa de fósforo sem palito. Sem fogo.

Agora o momento é de beleza e delicadeza.

Tuas mãos se entrelaçam com as minhas em um pacto de dedos, calos e unhas. Os corações sentem. E de falta de sentidos, não morreremos mais.

Enquanto essa união se fizer necessária, nunca mais iremos precisar de sinais para nos comunicar. Afinal, já estamos ligados afetuosamente por um cabo rígido e maleável ao mesmo tempo, que encurta a distância de nós dois a cada dia, conduzindo nêutrons e elétrons sem a necessidade do choque.

Ahhh... Se não fossem suas mãos, nada então seria.