sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Metade

Foi justamente em uma noite como esta, de calor forte e ar sem vento, que aquele homem, já pálido de tanto sofrimento, cansado e de mãos trêmulas, postou-se na frente do espelho no final do corredor da casa onde morava.

Nada mais lógico seria, do que ver a sua imagem refletida da forma que estava habituado em ver: um homem de estatura mediana, magro e com alguns cabelos grisalhos. Além de mais algumas outras pequenas variações que o tempo, e a ocasião, lhe brindavam.

No entanto, naquela noite, o espelho resolvera se comportar de uma forma inesperada, como nunca antes se comportara. A imagem que passava ao homem, era um tanto quanto assustadora: um homem pela metade.

Isso mesmo... Você pode até se perguntar como seria a imagem de um homem pela metade, afinal de contas, nenhum de nós está acostumado com esse tipo de visão. Porém, o fato do homem se ver dividido ao meio, tento de um lado metade de sua face, de outro apenas a escuridão, foi o suficiente para que, em menos de minuto, fosse procurar por sua outra parte, perdida em tempos verbais dos quais não sabia mais ao certo como conjugá-los.

Por fim, descobrira que não só as coisas são cortadas ao meio. De um lado fica aquilo que você conhece, ou seja, o que se pode tocar e ver. Do outro, apenas o vácuo, o vazio e o nada. Nesse espaço negro profundo, ficam guardados os sentimentos mais ocultos, dos quais nem sempre podemos confiar. Por isso, olhe-se no espelho essa noite, e veja o que ele tem para lhe mostrar. Vá atrás de sua outra metade, e tente conhecê-la ao certo, antes que alguém te veja ao meio.

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Lembranças Natalinas...

Ainda guardo comigo, lembranças de Natais que se eternizaram em minha vida. Confesso que os últimos não foram tão adoráveis, ao ponto de ficarem registrados para sempre em minha memória. Mas esse que agora se vai, e já leva consigo doces lembranças, com certeza ficará.

O mais surpreendente desse Natal, foi que o essencial me bastou. A festa estava bonita, claro. A mesa farta e a sala repleta de presentes, foi o suficiente para estampar em todos nós um sorriso fraterno. As crianças, que já não acreditam mais em Papai Noel, desembrulhavam presentes como se estivem desenterrando um antigo tesouro. E nós, adultos, o que mais queríamos, era na verdade saborear o ponche que mamãe sempre fizera somente nas noites de Natal.

Ainda não sei ao certo, se futuramente darei festas para esconder a solidão que habita dentro de mim. Todavia, enquanto não me tornar anfitrião de nenhuma delas, virarei rosa, pássaro, ou um cavalo selvagem em um campo que se estende ao eterno, construindo assim o meu presente. Porém, sei que todos ao meu redor, saberiam desfrutar de uma boa festa sem a minha presença, inclusive eu mesmo. Mas saber, que às vezes não sabemos que para alguém somos alguém, é o suficiente para me confortar em certos momentos.

Tem horas que somente existir basta, e o coexistir passa a ser algo supérfluo. Gozado que a gente descobre isso sempre por acaso, talvez de propósito mesmo...

Lá fora as nuvens se desfazem nesse fim de tarde de Natal, dando forma a noite que se sucede. O Sabiá canta no telhado, celebrando algo além do meu entendimento. Já o cheiro das mangas caídas no quintal, formam um delicioso perfume, que todos os fins de tardes deveriam ter. Do mais, como é gostoso saber que a estrela que se equilibra na árvore de Natal, manda beijos secretos pra mim, dos quais, de alguma forma, tento retribuir.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

É José


Seu nome era José...

Mas poderia ser qualquer outro.

Aprendera desde cedo a falar, a comer, a andar, a falar, a cansar, a cansar...

Algumas sozinho. E de si se arrependera exclusivamente sozinho.

Às vezes com uma história não se quer falar nada, nem com o nada se quer nada.

É, me sinto como José tem horas!

Isso também pode não ser nada. E se é, é por questão de identificação mesmo, apesar de ter tanta gente lá fora.

Por fim, José crescera, assim porque lhe ensinaram a morrer.

É José... Nessa vida basta ser, sem se importar tanto em querer ser.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Buzinas, Semáforos, e Outras Angustias Mais

As placas já não guiam á lugar nenhum...

Os semáforos confusos, por instantes parecem conspirar contra a vida, creio que sofrida, daquele velho e indefeso senhor, que se perde ao som de buzinas e ronco de motores envenenados, engasgados por delírios adulterados.

Seus curtos passos, que não sabem ao certo qual direção tomarem, me afligem em um golpe brutal. O olhar, que ao mesmo tempo pareceu-me demonstrar toda uma carência, faz-me agora, ao chegar em casa, perceber que também careço de algo que não sei ao certo qual é.

Mas através de um espesso vidro embaçado, apenas observo e torço por um final feliz. Como se àquilo tudo fosse um filme inédito, onde se torce por alguém de bem.

Quanta idiotice a minha... Naquele momento, onde a estagnação tomou conta do meu ser, me vi impedido de descer e fazer aquilo que agora me deixa inquieto.

Será que as cores perdem o significado ao envelhecer?

O vermelho talvez pode não conter...

Já o amarelo, quem sabe, consiga alertar.

Mas é o verde que penso em ignorar.

Só sei que nesse instante, me perco em significados que não sei ao certo quais são.