domingo, 26 de agosto de 2007

Redemoinhos...

Desejos derramados no ar desvendam passagens secretas. Perfuram vagarosamente paixões esvoaçadas, que dançam a deriva do vento. Suas faces beijam o chão, sedento de lágrimas, coberto por folhas e flores em um secreto ritual, onde segredos escapam nas curvas de gigantes redemoinhos. E nós, na brisa que nos congela, vamos driblando intermináveis contra-tempos que nos separam.

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Cão Sem Dono

Na noite fria que se entrelaça no fio de nossas almas, um cão solitário uiva do absurdo, perdido no escuro. Em sua língua áspera, todo um desejo de engolir a Lua refletida na poça d’água, em apenas uma lambida, de alguma forma lhe mata a sede. No vazio de sua mente, lembranças cortantes espalham a amarga poeira que encobre seus olhos. Um mundo formado por verdades e mentiras, cinema e magia, descortina em sua frente. Do farelo das galáxias, temos estrelas. E nesse ponto, a alma da gente parece engravidar.Mas a madrugada curta logo se vai, levando consigo toda enxurrada de lamentos. Os primeiros raios de Sol avisam que já é hora de se esconder do mundo. E debaixo de uma marquise abandonada, existe um caixote de madeira nobre. Nele, ele se adentra e se tranca, até a próxima noite.Talvez eu seja esse cão!

Ah, Balões...

Muito além aquém do explicável, do lógico inatingível razoável, existe um imenso céu, onde balões meteorológicos cheios de magia e beleza, em dias de muito frio, harmonicamente ultrapassam as barreiras ilusórias do fim do mundo, indo voar por toda uma eternidade de desejos libertinos, paridos por nós no íntimo da aura.O gozado é que, justamente nesses mesmos dias de muito frio, o misterioso céu expõem a nós, de forma clara e estupenda, tudo aquilo que cultivamos, silenciosamente sem saber, nas estações passadas: amores e paixões incompreensíveis, perante um vasto cesto carregado de razões. E que, de alguma forma, fora ofuscado pelos dias quentes, onde nossas lágrimas serviram de cobertura para inúmeras maças do amor, no circo da vida.E é nessa imensidão, rasgada por abismos estrelares, esculpida por fendas entre a realidade e a invenção, que irei continuar na eterna busca. Pois um dia, embarcarei em um balão que me levará até você, para que juntos possamos transpor todas as barreiras.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Jardim Sentimental

Ao despertar, Alice já notara que aquela seria uma manhã diferente, incomum, no melhor sentido da palavra. E esse saber, fez com que não fosse preciso muito tempo, para que um sentimento jovial a impulsiona-se da cama, de maneira nunca vista antes. Afinal, havia um mundo sorrindo lá fora. E Alice, mais do que ninguém, sabia disso.
Sua camisola, de cor clara e suave, confundia-se com o tom doce e afável de sua pele. Seu rosto, desenhado por finos traços, formava um olhar penetrante, ainda mais penetrante devido às finas sobrancelhas que a embelezavam. Nada, absolutamente nada poderia afetar seu encanto, naquela linda e serena manhã de primavera, enaltecida pelos pássaros a cantar em seu jardim de flores festivas. E foi justamente para lá, para o jardim que Alice se pôs a caminhar. Dava ares de estar consciente, que nele estaria todo um mistério a ser revelado. Algo mágico, nunca antes imaginado por alguém, que a ti foi revelado pela mãe natureza.
Parecia uma miragem. Uma cena de um filme romântico sem a presença de uma segunda pessoa. Um filme onde somente ela nele existia, além de todas as outras maravilhas naturais, que juntas compunha o alegre cenário. À primeira vista que obteve, ao abrir vagarosamente a janela do quarto, lhe deu a leve impressão de ainda estar sonhando, mas que logo foi descartada pelo vento matinal que soprava em seu rosto. Podia senti-lo, assim como podia sentir o cheiro suave desprendidos pelas camélias das mais variadas cores em seu jardim. Mas não foi uma camélia, nem uma margarida que acabou lhe revelando o mistério guardado, e sim uma linda e formosa rosa vermelha.
Parece até estranho falar, sei que muitos irão duvidar, afinal, nem a ela foi fácil acreditar. Mas, essa rosa citada por mim, parecia ser gente. Tão parecida era, que chegou a se comunicar, talvez telepaticamente com Alice. E nesse contado, entre duas beldades de distintas espécies, um desabafo foi feito pela rosa, que disse em lágrimas a jovem Alice, tudo aquilo que tinha guardado em seus espinhos. Revelou, em um instante mágico, todo o seu descontentamento com os humanos. Pois, segundo ela, ninguém da nossa espécie sabe admirar por completo a beleza de um jardim em flores, onde suas personagens logo se murcharão e darão espaço a outras personagens, ou tragicamente, a um concreto.
Mas esse breve contato, nunca antes imaginado, não parou por ai. Uma missão foi dada pela rosa a jovem Alice. Missão essa que coube somente a ela cumprir, e mais ninguém. Os detalhes dessa missão eu não posso revelar. Visto que, caberá a cada um de nós, um dia cruzar com Alice, em um jardim em flores, ou de frente a uma sepultura velada por crisântemos.
No entanto, foi a partir dessa estupenda manhã que Alice percebeu que as flores nos vêem, tanto quanto nós a elas. Não foi preciso muito tempo. Logo após o recado, Alice partiu de camisola mesmo em direção a única floricultura da cidade, para então abrir os olhos do floricultor. Quem sabe, ela já esteja chegando aí, em seu jardim para lhe avisar. Agora, caso você não tenha jardim em sua casa, é melhor construir um, e passar a cultivá-lo, olhando as flores com o carinho que elas merecem.

domingo, 12 de agosto de 2007

Borboleteando

Em meio às minhas dúvidas, habitam segredos e sussurros, gemidos e gritos abafados, que vez por outra são ouvidos à distância, por ti somente...

No meu copo, apenas há mentiras verdadeiras. E a mentira que sou tudo que adora, talvez seja uma delas. Mas isso não é o suficiente, para impedir de brindarmos o acaso, em apenas um gole de ponche.

Sabe... Já me disseram que todo o mistério da vida cabe em poucas palavras, quem sabe em duas linhas. E são justamente as poucas palavras, ditas por nós, que me fazem sentir eterno e feliz. Como uma borboleta, que borboleteando entre flores de algodão, atrás de um bom-bocado de pólen, não vê espinhos, apenas flores.

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Doce Amarga Hipnose

Junto de minhas lágrimas, habita um pêndulo de cristal frágil. Ele balança, e não se cansa. Horas se vai até a direção do tédio. Em outras, ruma sentido à ebulição de todo o meu querer. Equilibra-se drasticamente na corda-bamba que me liga ao mundo lá fora. Mostra-se amigo fiel do tempo que me devora com voracidade, contra o qual nada posso fazer. Seu vai-e-vem me hipnotiza vagarosamente. E dessa hipnose alucinante, espero nunca voltar.

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Eterna Fragrância

Após um longo e cansativo dia de serviço, chego em casa. Estou exausto, evidentemente. Porém, não o suficiente para esquecê-la...

Sua foto, no porta-retrato, me faz lembrar momentos irreversíveis. Instantes mágicos, eternizados em minha mente, por incrível que pareça: minimalista.

Sem vontade alguma de seguir em frente, concluindo assim, meus afazeres cotidianos, dou um basta naquilo que me sufoca. Ligo o som. Paranoid Android será, por ocasião do destino, a trilha sonora da noite...

Deito no chão, parecendo estar seguindo um ritual pré-estabelecido. Sobre a minha sombra, sinto o seu cheiro. Sonho acordado, durante o resto da madrugada.

domingo, 5 de agosto de 2007

Bendito Sonho

Só então, ao acordar, dei-me conta que naquela noite algo surpreendente aconteceu. Algo que, sem dúvida alguma, foi o suficiente para mudar a minha vida...

Já se passavam das duas da madrugada. O silêncio definitivamente se tornava dono da noite. O velho edredom vinha até o momento correspondendo às expectativas, podendo ser considerado meu melhor amigo, pois os dias de muito frio, custavam em ir embora. E de súbito, achei-me só, em meio ao meu sonho.

Nele, encontrei-me com o meu “Eu”. Foi uma sensação única. Creio que vivida por pouquíssimas pessoas. Era uma mistura homogênea de medo e coragem, que, de certa forma, impulsionava-me ao grande encontro. Nesse instante, nem mesmo a explosão de uma ogiva nuclear seria capaz de me acordar. E assim, continuei a caminhar, em sonho...

Quando já não existia mais distância a ser percorrida, pude sentir o calor e o cheiro vindo daquele ser conhecido, que agora se fazia presente bem na minha frente. Ficamos estáticas e em silêncio durante alguns poucos minutos. Até que o meu “Eu”, pôs-se a falar profeticamente...

Confesso que fiquei arrepiada. Não conseguia unir forças para questioná-lo. Pelo menos ali, naquele instante, eu fui uma espécie rara de coadjuvante de mim mesma. Apenas escutava em silêncio, e nada mais fazia se não concordar.

O que foi dito nesse sonho, não posso contar. Pois nem ao acordar me lembrava mais. Tudo foi anexado perfeitamente em meu subconsciente, em silêncio. Apenas posso garantir, que após aquela noite, nunca mais quis ser uma vencedora. Resolvi então tocar o barco devagar, para não me faltar amor.