terça-feira, 23 de outubro de 2007

Abóbora...

Ulisses sempre fora um sujeito quieto, mergulhado em um mundo individual e intransferível, que jorrava em gotas quentes pelas bordas da sua memória, atingindo em cheio as altas esferas de outras galáxias.

Cultivador daquilo que chamam de ostracismo social, foi qualificado por muitos de covarde, irresponsável e mal humorado. Afinal, rótulos era o que não lhe faltara, nunca. E deles, poucos atreveram defende-lo.

Embora todos desconhecessem seus segredos, não fazia questão de guardá-los de ninguém. Sabia muito bem que a descoberta de si próprio, caberia apenas àqueles que por ela se dispusessem a enfrentar.
Mesmo que para isso, fosse necessário encarar algumas verdades fulminantes, implacáveis e cruéis, apenas com as roupas de baixo.

Tanto era o seu delírio, que nas manhãs ao escovar os dentes, seu inconsciente parecia ordenhar o Universo em um simples e amargo copo de café. Seu dia acabava passando rápido, sedento pela noite que logo vinha em um fuso horário difícil de entender. O fim de tarde passava, e levava consigo o Sol de lantejoulas, já cansado de brilhar.

No entanto, era nas noites longas e frias, repletas de choros e lamentos, que ele se fazia presente no céu, já que se transformara por instantes em uma abóbora celeste, que intrigava a todos com sua forma abstrata de ser, desafiando os queriam parti-lo em pedaços, para depois saboreá-lo em caldas de açúcar junto de suas angustias.

Um comentário:

Grazzi Yatña disse...

Doce de abóbora gostoso esse
mas nem precisou partir em pedaços, desceu cremoso..hihihi