sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Metade

Foi justamente em uma noite como esta, de calor forte e ar sem vento, que aquele homem, já pálido de tanto sofrimento, cansado e de mãos trêmulas, postou-se na frente do espelho no final do corredor da casa onde morava.

Nada mais lógico seria, do que ver a sua imagem refletida da forma que estava habituado em ver: um homem de estatura mediana, magro e com alguns cabelos grisalhos. Além de mais algumas outras pequenas variações que o tempo, e a ocasião, lhe brindavam.

No entanto, naquela noite, o espelho resolvera se comportar de uma forma inesperada, como nunca antes se comportara. A imagem que passava ao homem, era um tanto quanto assustadora: um homem pela metade.

Isso mesmo... Você pode até se perguntar como seria a imagem de um homem pela metade, afinal de contas, nenhum de nós está acostumado com esse tipo de visão. Porém, o fato do homem se ver dividido ao meio, tento de um lado metade de sua face, de outro apenas a escuridão, foi o suficiente para que, em menos de minuto, fosse procurar por sua outra parte, perdida em tempos verbais dos quais não sabia mais ao certo como conjugá-los.

Por fim, descobrira que não só as coisas são cortadas ao meio. De um lado fica aquilo que você conhece, ou seja, o que se pode tocar e ver. Do outro, apenas o vácuo, o vazio e o nada. Nesse espaço negro profundo, ficam guardados os sentimentos mais ocultos, dos quais nem sempre podemos confiar. Por isso, olhe-se no espelho essa noite, e veja o que ele tem para lhe mostrar. Vá atrás de sua outra metade, e tente conhecê-la ao certo, antes que alguém te veja ao meio.

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