
Cultivador daquilo que chamam de ostracismo social, foi qualificado por muitos de covarde, irresponsável e mal humorado. Afinal, rótulos era o que não lhe faltara, nunca. E deles, poucos atreveram defende-lo.
Embora todos desconhecessem seus segredos, não fazia questão de guardá-los de ninguém. Sabia muito bem que a descoberta de si próprio, caberia apenas àqueles que por ela se dispusessem a enfrentar.
Mesmo que para isso, fosse necessário encarar algumas verdades fulminantes, implacáveis e cruéis, apenas com as roupas de baixo.
Tanto era o seu delírio, que nas manhãs ao escovar os dentes, seu inconsciente parecia ordenhar o Universo em um simples e amargo copo de café. Seu dia acabava passando rápido, sedento pela noite que logo vinha em um fuso horário difícil de entender. O fim de tarde passava, e levava consigo o Sol de lantejoulas, já cansado de brilhar.
No entanto, era nas noites longas e frias, repletas de choros e lamentos, que ele se fazia presente no céu, já que se transformara por instantes em uma abóbora celeste, que intrigava a todos com sua forma abstrata de ser, desafiando os queriam parti-lo em pedaços, para depois saboreá-lo em caldas de açúcar junto de suas angustias.