terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Gatos... Gatos?

Gatos.

Deitado na cama, ouço o barulho de gatos!

Infelizes gatos, que resolveram me atormentar justo nessa noite, na qual recorro a soníferos vencidos.

O rádio-relógio já marca três e quinze da madrugada. A programação do canal que assisti até então na televisão, agora exibe apenas uma tela colorida por riscos, sintonizada em uma rádio que toca o mesmo Blues sem parar. A cama parece não me aceitar nessa noite, como se eu fosse um estranho. Talvez eu até seja, mas não em minha casa.

Rolo de um lado para o outro. Cubro a cabeça com o travesseiro. Coço as costas. Mas o sono parece estar desperto como nunca, e nessa noite abafada, em que tudo pode acontecer, percebo gatos andando pelo telhado. O que mais pode me acontecer?

Seus miados e gemidos penetram por todos os cantos, desde as frestas da janela, até pelos buracos dos cupins no velho forro de madeira. Atingem meus ouvidos em cheio, me fazendo ficar mais impaciente ainda.

Eles choram também. E choram como se fossem crianças. Penso comigo, e descubro que realmente não sirvo para ser pai. Seus passos pelo telhado, ao mesmo tempo em que são suaves, conseguem fazer um barulho infernal, que chega a me assustar em certos instantes.

Deitado na cama, eu fico imaginando a qual raça esses gatos fazem parte. Seriam eles Siameses, Angorás, Persas, ou então uns coitados de uns Vira-latas sem lar, à procura de algum romance que dure somente por uma noite, e nada mais? Talvez sejam humanos também, nesse ponto...

Algo me sugere, para chamá-los!

Tomado por um impulso inexplicável de um anti-felino, que se entrega diante a magia dos gatos, abro a janela e escalo o telhado pela calha velha e enferrujada. Meu único objetivo naquele instante era tocá-los, tentar uma aproximação amigável, para então tê-los como amigos em todas as noites de insônia que viessem me atentar.

Mas espantado, não os encontro quando definitivamente já estou sobre as telhas francesas da minha casa.

Teriam eles se assustado com a minha presença?

Fugidos para outros telhados?

Ou tudo isso não passa de um sonho?

Uma alucinação?

Não sei bem...

Só sei que volto para dentro do meu quarto, e ainda ouço o barulho de gatos.

3 comentários:

Grazzi Yatña disse...

Miauuu! hihihihi

Entre delírios,lambidas e telhados..ótimo texto!
Beijos.

Rosi Gouvêa disse...

Mimado ou abandonado, gatos são sempre gatos, e defendem quase os mesmos adjetivos. É uma máquina de caçar que se mantém com as mesmas características há 32 milhões de anos. Um olhudo que enxerga num campo de visão de 287 graus e é capaz de emitir quase 50 fonemas. Um pernalta que chega a correr a 48 km/h mas que pode dormir 16 horas por dia. Que percebe vibrações auditivas que escapam ao ouvido humano. Foi, aliás, estudando o funcionamento das vibrações felinas que o homem inventou o radar.

O gato é uma chance de interiorização e sabedoria posta pelo mistério à disposição do homem.

Miaaaau :)

Limeriques disse...

Saiba: ninguém passa impunimente por um miado.

Em tempo: adorei seu texto.